quarta-feira, 20 de outubro de 2010

15 anos

Estava numa casa que já não era a minha, pelo menos não era a casa onde eu morava. Não passava lá muito tempo. Apenas ia até lá para ver a minha mãe e os meus irmãos.

Nesse dia fui lá para me despedir porque estava de fim de semana marcado em Espanha. Conforme combinado, num grupo de quatro amigos, o primeiro salário de cada um era para gastar num fim de semana algures. O primeiro a trabalhar foi o Zé e o destino escolhido era Vigo.

Sorri para mim mãe e para os lindos olhos esverdeados que tantas saudades me deixam. Estava a fazer filetes de pescada para o jantar nessa Sexta-feira.

O telefone tocou e mãezinha disse: "Atende que tenho as mãos sujas de farinha!" Fui atender o telefone numa casa que já não era a minha, para onde ninguém me ligava.

"Allo?" - do outro lado da linha.

"Sim, boa noite" - respondi.

"Era mesmo consigo que queria falar, é o filho do Zé Manel certo?"

"Sim, sou..."

"Houve um acidente com o seu pai."

"Ele está bem?"

"Infelizmente não resistiu..."

"..."

"..."

"Allo?"

"Sim, ainda estou aqui."

E assim foi, como eu recebi a notícia do falecimento do meu pai, sem estar na minha casa, sem contar, ainda por cima, ironia das ironias como cantaria Alanis, ter recebido um telefonema na casa da minha mãe onde eu já não vivia há uns bons cinco ou seis anos.

Pior ainda, foi contar à minha mãe e à minha irmã, que alegremente cozinhavam uns tristemente deliciosos filetes de pescada na cozinha.

Faz hoje 15 anos e ainda hoje me arrepio só de pensar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

África


África pode significar muita coisa. À cabeça das pessoas as primeiras palavras e imagens são de selva, calor, pobreza... etc. Mas de uma coisa tenho a certeza, é mais fácil meter a Europa numa frase do que África. Ainda assim, as pessoas insistem: "vais para África?" como se perguntassem se estamos a ir ao café da esquina, beber um fino ou jogar um bilhar. Ir a "África" é muito mais lato. Pode-se de facto ir ao Quénia ou a Moçambique e ver selva, animais engraçados e sentir o calor. Mas também se pode aterrar em Joanesburgo e não ver nem sentir nada disso.

Vem isto a propósito de ter visto em dias consecutivos filmes de Hollywood em que se dizia "ele esteve" em África ou até na série "ER" falar-se em África como se fala com aquele tom misterioso de quem não sabe o que está a dizer.

Ninguém diz vou à Ásia ou vou à Europa. Ou se vai a Espanha ou à China. África pode ser tão diferente como deserto, floresta ou uma grande cidade. De facto, aterrar em Lagos é completamente diferente de aterrar em Windhoek. Em contrapartida, não é assim tão diferente aterrar em Londres ou Madrid.

Mas os americanos dizem "África". Pois eu estou aí mesmo, em África.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Primeira Mensagem

Às vezes apetece-me vomitar. Deitar fora aquilo que me incomoda. Outras vezes apetece-me partilhar coisas boas. Por isso abri este espaço. Espero ir partilhando coisas boas e más com todos e com ninguém. Porque pode estar "aí" alguém ou ninguém.

Chamei-lhe "Lunação" porque devo acompanhar as fases da Lua. Há taras para tudo. Se fosse mensal, chamava-se "Menstruação". Se fossem os 11 minutos do Paulo Coelho, seria "Ejaculação". Mas não vamos por aí. Vamos pela Lua, é mais giro e dá um aspecto de coisa com nível.

Hoje é a Primeira Mensagem e vamos ditar as regras: aqui não há e podem dizer o que quiserem. Eu também não tenho regras na minha censura. Vale tudo. Também aceito discos pedidos. Se quiserem abordar um determinado assunto, é só pedir. Eu obedeço, ou não.

Hoje não há tema e como em tudo, a primeira vez é insossa. Por falar em sal, ou na falta dele, também gosto de receitas de culinária. Eu não digo as minhas mas deixo que partilhem comigo as vossas.

Bem hajam