quarta-feira, 20 de outubro de 2010

15 anos

Estava numa casa que já não era a minha, pelo menos não era a casa onde eu morava. Não passava lá muito tempo. Apenas ia até lá para ver a minha mãe e os meus irmãos.

Nesse dia fui lá para me despedir porque estava de fim de semana marcado em Espanha. Conforme combinado, num grupo de quatro amigos, o primeiro salário de cada um era para gastar num fim de semana algures. O primeiro a trabalhar foi o Zé e o destino escolhido era Vigo.

Sorri para mim mãe e para os lindos olhos esverdeados que tantas saudades me deixam. Estava a fazer filetes de pescada para o jantar nessa Sexta-feira.

O telefone tocou e mãezinha disse: "Atende que tenho as mãos sujas de farinha!" Fui atender o telefone numa casa que já não era a minha, para onde ninguém me ligava.

"Allo?" - do outro lado da linha.

"Sim, boa noite" - respondi.

"Era mesmo consigo que queria falar, é o filho do Zé Manel certo?"

"Sim, sou..."

"Houve um acidente com o seu pai."

"Ele está bem?"

"Infelizmente não resistiu..."

"..."

"..."

"Allo?"

"Sim, ainda estou aqui."

E assim foi, como eu recebi a notícia do falecimento do meu pai, sem estar na minha casa, sem contar, ainda por cima, ironia das ironias como cantaria Alanis, ter recebido um telefonema na casa da minha mãe onde eu já não vivia há uns bons cinco ou seis anos.

Pior ainda, foi contar à minha mãe e à minha irmã, que alegremente cozinhavam uns tristemente deliciosos filetes de pescada na cozinha.

Faz hoje 15 anos e ainda hoje me arrepio só de pensar.