quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O urologista

As noites estavam a tornar-se cansativas. Estava a fazer um trilho desde o quarto para a casa de banho tantas eram as vezes que a bexiga me acordava durante a noite. E durante o dia tinha que andar sempre perto de uma casa de banho porque havia algo que mandava na minha agenda sanitária: a minha bexiga!

Preocupado, decidi procurar um especialista na matéria. Não sem antecipadamente ter feito umas análises ao sangue para ver a dita PSA por forma a diminuir o cagaço de um eventual cancro na próstata.

Com uma boa PSA lá fui eu ao dito urologista.

- Boa noite Dr.

- Então como está? O que o traz por cá?

Com vontade de lhe dizer que tinha ido lá ver umas enfermeiras boas, contive-me e contei-lhe a historinha toda.

- Temos que fazer umas análises e vai-se deitar ali (na marquesa) para eu o observar.

O medo do toque rectal estava a subir vertiginosamente pelas costas. Como quem saca do ás de trunfo, tirei a PSA. Sorriso vitorioso quando percebi a anuência do senhor doutor.

- pronto, as analises já não são necessárias. Mas temos sempre que o examinar.

Este "temos" ainda me deu esperança que entrasse pela porta a enfermeira boa que tinha visto à entrada. Mas pelo sim pelo não, fui refutando.

- Ó Dr.!? Então já tem a PSA e ainda precisa do toque rectal?

- Imagine que esta a comprar um carro. A PSA dá-lhe o preço mas é sempre necessário sentir o carro, ver como ele é.

Estava quase para lhe dizer que quando era pequeno me diziam que "ver era com os olhos".

- Dr. É mesmo necessário?
Pergunta idiota da minha parte.

- Já que veio até aqui deixe-me fazer o meu trabalho. Deite-se e dispa-se!

Se fosse cão, teria as orelhas caídas. Deitei-me sem roupa. O homem ia protegendo um dedo com uma espécie de preservativo, mas naquele momento aquele dedo mais me parecia um tronco. Suores frios. Olhos no tecto. Mas primeiro apalpou-me o material dizendo:

- Pénis perfeito, testículo perfeito, outro testículo perfeito.
Isto vindo da Soraia Chaves teria piada. Vindo de um gajo que está prestes a meter-me o dedo, tem uma validade muito relativa.

- Dobre os joelhos. Dói?

- Não dói Dr.

- É agradável?
O gajo seria o Ferreira Dinis? Claro que não estava a ser agradável.

- Não Dr. Não é de todo agradável.

- Agora vou-lhe tocar na próstata e é possível haja dor.

Sem mais aviso enfiou-me o dedo furiosamente. Vi pássaros, estrelas e tudo o resto que se costuma ver quando se prende o mambo no fecho das calças.

- O senhor tem uma prostatite.
Acabou o martírio mas ainda fiquei deitado com um esgar de dor durante uns bons momentos.